Serviço do app Google Arts & Culture já lidera downloads no Brasil no segmento de educação.

'Polymnia', de John Lavery, foi comparada com a repórter pelo Google Arts & Culture

A brincadeira não é de hoje: há tempos, entre um corredor de museu ou outro, um visitante pode se surpreender com uma pintura de Goya que pareça alguma tia-avó, ou algum príncipe barbudo que seja a cara daquele seu colega de trabalho hipster.

Outro dia, um amigo encontrou seu gêmeo perdido em um museu de Budapeste (até o estilo do bigode dos dois era idêntico). Eu mesma, alguns meses atrás, me deparei com um quadro de Grant Wood (o pintor americano mais conhecido por “American Gothic”) no Whitney Museum em que um dos personagens retratados era a cara de... Michel Temer.

 

'Parson Weems’ Fable' (1939), de Grant Wood: retratado à direita, o historiador Parson Weems poderia se passar por Michel Temer.

 

Mas a experiência que era sempre obra do acaso agora pode ser vivida direto do celular. Graças ao Google, sem sair de casa, é possível descobrir seus correspondentes em museus de todo o mundo com apenas uma selfie. A brincadeira, chamada de Art Selfie, pode ser acessada dentro do app Google Arts & Culture.

Já presente há algum tempo em outros países, a funcionalidade chegou esta semana ao Brasil. Junto com o lançamento, o Google ainda incrementou o acervo do Art Selfie com 500 obras de museus nacionais.

Apenas na Pinacoteca de São Paulo, 80 quadros foram digitalizados com uma câmera de altíssima resolução, o que fez do museu o líder em retratos disponíveis no Art Selfie. No total, a funcionalidade conta com mais de 1.600 obras de instituições ao redor do mundo.

Longe de ser amplamente usado como outras ferramentas do Google, o Arts & Culture tem no Art Selfie a sua melhor chance de ganhar popularidade. Na Play Store, o app já lidera os downloads no segmento de educação. E, de acordo com o Google, o Brasil já é um dos dez países que mais usam o serviço.

O Google Arts & Culture, no entanto, é mais ambicioso do que apenas a brincadeira do Art Selfie. No mês passado, o projeto lançou um acervo on-line das obras da pintora mexicana Frida Kahlo, com direito a obras raras que raramente são expostas. Há também parcerias com museus e pontos turísticos, inclusive brasileiros como o Museu do Amanhã, que permitem tours em 360°.

Aqui no Rio, além do Museu do Amanhã, são parceiros o Instituto Moreira Sales, Museus Castro Maya, Museu Imperial, Santuário Cristo Redentor, Museu do Índio, Centro Cultural Banco do Brasil, Museu Histórico Nacional, MAM Rio, Museu Nacional Belas Artes e o Theatro Municipal.

 

Matilde de Aguilera y Gamboa, retratada pelo espanhol Federico de Madrazo y Kuntz, foi outra tentativa do Google de acertar.

 

Mas vamos ao que interessa: afinal, dá para encontrar uma cópia sua em versão de tinta a óleo com o app? Pela minha própria experiência, ainda não estou convencida. Desde ontem, perdi um bom tempo posando para a câmera do celular. Fiz poses com o cabelo preso, solto, com maquiagem, sem maquiagem, com luz forte e fraca, com duck face, sem duck face, enfim, variações que fariam Kim Kardashian orgulhosa.

A cada tentativa, o Art Selfie apresenta cinco opções de pinturas semelhantes à foto original, ranqueadas por percentual de correspondência. Embora eu tenha tirado inúmeras fotos e em diversas poses, os quadros apresentados não mudavam muito de uma tentativa para a outra, sinal de que o aplicativo de fato não faz escolhas aleatórias.

No entanto, as obras apresentadas dificilmente pareciam umas com as outras. Como meus semelhantes, o Google apresentou meninas adolescentes, mulheres de meia-idade e até homens (mesmo que bastante andrógenos). Entre todos eles, as semelhanças eram os traços que seriam mais óbvios se alguém fosse fazer um retrato falado meu: cabelos castanhos, pele muito clara, olhos grandes e um nariz impertinente. O resultado, porém, pode variar absurdamente dentro dessa descrição.

 

A repórter e a obra de Cagnaccio di San Pietro que desagradou

 

Na grande parte das vezes, o que apareceram foram pinturas clássicas, de mulheres europeias de origens nobres. Não é nada menos do que o reflexo do que hegemonicamente se encontra nos museus ao redor do mundo. É uma incógnita, portanto, se o Google possui um acervo suficientemente plural para dar conta da diversidade étnico-racial do Brasil. O jornal Extra testou o serviço com celebridades brasileiras e, por exemplo, Zeca Pagodinho foi associado com uma gravura holandesa, enquanto Anitta foi identificada com uma arte contemporânea do Turcomenistão.

Um fator preocupante para a maioria, a beleza também não se mostrou essencial. O Art Selfie insistiu, veja só, que eu era a cara de Mary Patton, uma mocinha de feições angelicais retratada pelo mestre do realismo americano Robert Henri (1865-1929). Ao mesmo tempo, também me comparou com “La ragazza e lo specchio”, do italiano Cagnaccio di San Pietro (1897-1946), o que considerei uma baita de uma maldade.

"A summer morning", do australiano Rupert Bunny

 

No fim das contas, me encontrei somente em um dos tantos retratos: é uma menina que aparece em “A summer morning”, de Rupert Bunny (1864 – 1947). O quadro não poderia estar fisicamente mais distante: faz parte do acervo da Art Gallery of South Australia, em Adelaide. Para completar, minha gêmea não é sequer protagonista: ela aparece olhando de soslaio para uma outra moça que oferece uma rosa a um cisne, esses dois, sim, os donos da cena.

Mesmo que relegada à nota de rodapé da história da arte, encontrei na minha amiguinha australiana, feita com técnicas impressionistas e tons pastel, uma certa conexão que me deixou satisfeita. Testei o resultado com uma enquete no Instagram e, até agora, apenas um amigo votou que não parecia (embora ele tenha me mandado uma mensagem dizendo que “lembra um pooouuuquinho assim, vai”).

Moral da história: talvez ainda tenha que bater muita perna em museu até encontrar a minha obra de arte perdida. Ou, talvez, nem precise. No fim das contas, ao ver a popularidade do Art Selfie nas redes sociais, é impossível não deixar de pensar que o mestre do Barroco Caravaggio já tinha retratado cada um de nós quando pintou a sua versão do mito de Narciso, lá no final do século XVI: belos e egoístas, completamente embriagados pela própria imagem.

 

Fonte: Jornal O Globo

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